Espelho, espelho meu...



Trabalhando com caricaturas, presencio muitos fatos interessantes que levam a refletir sobre o comportamento de nós, seres humanos.

Vejo pessoas se penteando antes de serem desenhadas - como se um fio fora do lugar mudasse o desenho. Vejo também, mais comumente, pessoas que usam óculos o dia inteiro retirar para serem desenhadas - isso a desconfigura por completo.

Escuto também o seguinte comentário: "A caricatura dos outros são perfeitas, idênticas. Mas a minha não tem nada a ver comigo".

A autocrítica sempre fala mais alto, na visão de quem é desenhado.

A ciência explica: a culpa é do espelho. Depois de ficar na frente do reflexo por uns minutos, começamos a nos achar mais bonitos. Isso ocorre por causa do “Efeito da Mera Exposição”, formulado em 1968 pelo psicólogo polonês Robert Zajonc. Ele defende que temos mais familiaridade com coisas que vemos com mais frequência – ou seja, que são mais expostas.

Em um experimento, Zajonc reuniu um grupo de pessoas e mostrou uma sequência de imagens geométricas em uma velocidade altíssima, de modo que era impossível distinguir as figuras. Depois mostrou as mesmas formas, dessa vez ‘congeladas’, e pediu para que os voluntários escolhessem a mais atrativa. O resultado era sempre o mesmo: eles escolhiam aquela que aparecia mais vezes na sequência.

Zajonc concluiu que a exposição repetida gera familiaridade na mente humana. Por isso, quanto mais tempo você passa na frente do espelho, exposto ao seu próprio reflexo, mais atraente você acha que está. E é pela mesma razão que acontece o estranhamento diante de uma foto sua: você não está familiarizado com aquela imagem estática.

Outro ponto que atrapalha nossa relação com as fotos ou desenhos é a expectativa. Sempre esperamos sair do mesmo jeito que nos vemos no espelho.

Para evitar essa "decepção". a dica é simples: use o Efeito de Mera Exposição a seu favor. Familiarize-se com sua foto/caricatura: basta olhar pra ela repetidamente.

Lógico que a imagem não vai passar por um Photoshop instantâneo, mas logo seu cérebro vai acreditar que você não está tão mal assim.

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