Intolerância - Por Kadu Farias



Hoje, a notícia do assassinato de 12 pessoas, no semanário de humor "Charlie Hebdo" (uma espécie de “Pasquim” francês), incluindo os quatro cartunistas Georges Wolinski, Charb, Cabue Tignous me deixou meio passado o dia inteiro.

A grande função da charge é fazer, com humor, as pessoas pensarem. É como um editorial em imagem.

Hoje seria muito fácil fazer uma charge para homenagear os artistas ou externar com meu traço a revolta, mas não. Hoje meu traço está de luto. Prefiro escrever.

O grande problema em questão é analisar o que o ser humano está se tornando. Há algum tempo atrás o humorista Rafinha Bastos foi afastado da Band por causa de uma piadinha de botequim.

O assunto em questão, nas mortes de hoje não é religião e sim a intolerância.

Quando o humor passou a ser arma?

Pelo que saiba, a única arma que esses cartunistas utilizavam era o lápis.
Como se pode matar em nome de Deus, se a grande mensagem de todas as religiões é o amor ao próximo. Mata-se por intolerância em nome de religiões que pregam a tolerância. Meio confuso isso.

A realidade é que independente de religião, as pessoas estão tomando um rumo louco de vida.

Ontem mesmo, conversava sobre esse tipo de coisa com a minha namorada.
Na empresa que ela trabalha, seu chefe mandou um e-mail para sua equipe (agradecendo pelo fim de ano) e no texto, brincava com alguns defeitos de cada um, mostrando que essas imperfeições tornam-se qualidades quando focadas em um objetivo.O que ele não esperava era que isso geraria um furdunço, onde muitas pessoas se sentiram ofendidas.

As pessoas só gostam de mostrar seu melhor e não suas falhas.

No facebook, postam seu self com as melhores caras e roupas, o prato gostoso que vão comer, os lugares legais que vão, mas ninguém posta foto de boletos vencidos.
Com meu trabalho com caricaturas vejo em muitas festas pessoas que se negam a fazer desenho pelo simples fato de se expor. Pessoas que pegam seu desenho e escondem para ninguém ver na festa. “Gente, é só um desenho! Isso não é você, mas o jeito básico com que um desenhista (que não te conhece) te viu!”Quantas vezes tiramos fotos e apagamos pelo simples fato de não gostarmos do jeito que estamos nela.

Quanto ao fanatismo religioso, a maioria das religiões se perde nisso, não precisa ser muçulmano pra isso. Fui casado com uma evangélica e via irmãos de igreja serem mais bem tratados do que irmãos de sangue.

Até que ponto temos que agradar a nós mesmos?

Até quando temos que tratar o próximo como a Esfinge que diz: “Decifra-me ou te devoro!” Ou você entende meu jeito ou você não serve pra nada.

No fundo só agimos como o espelho da estória da Branca de Neve, que falava o que a madrasta pedia, pelo simples medo de ser quebrado.

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